Friday, October 9, 2009

Chegada em Monrovia, Libéria

Estava aqui preparando o 1º post sobre a Libéria, e queria falar da história do país. Como não é fácil resumir tamanha confusão e este blog é sobre a minha experiência (e não sobre história da Libéria) passo o link do Lonely Planet que tem um belo resumo.

http://www.lonelyplanet.com/liberia/history

Mas pra quem estiver com preguica de ler, o resumo do resumo é que o país foi criado em 1815 para “repatriar” os ex-escravos dos EUA. E desde então descendentes desse grupo dominaram a política e economia do país, o que causou conflitos com as tribos locais, que foram completamente excluídas e marginalizadas. Em 1980, esses conflitos desencadearam duas guerras civis que duraram mais de 20 anos. Resultado da guerra: 75% das mulheres estupradas, aproximadamente 250 mil mortos, e mais de um milhão de refugiados em países vizinhos.

Libéria hoje - Em 2003, tropas dos EUA e da ONU intervieram no país com o objetivo de acabar com a guerra e desarmar a população. O objetivo foi atingido, e em 2006, a Libéria elegeu a atual presidente Ellen Johnson-Sirleaf, primeira presidente mulher do continente africano (a eleição foi bastante disputada entre ela e o famoso jogador de futebol africano George Weah). Hoje, os principais desafios da Libéria são completar o processo de desarmamento, repatriar refugiados, e reconstruir o governo, economia, e infra-estrutura. Ou seja, reconstruir o país. Pra se ter uma idéia do estrago, hoje o país não tem rede de energia elétrica porque as usinas foram destruídas na guerra.

Apesar do passsado trágico bastante recente, os liberianos junto às várias agências de desenvolvimento, organizações internacionais, ONGS e governo querem levar este país para frente. E aí está uma das grandes razões por eu ter feito a escolha de me juntar à LFS (http://www.lfs-consulting.de/) . A proposta de trabalhar numa consultoria especializada em microfinanças já me animou muito. Quando me falaram que o programa de formação seria num dos bancos do grupo na Libéria (AccessBank), nem tinha idéia de onde o país ficava no mapa. Pra quem ainda não sabe, coloquei o mapa aqui.

Depois de muito pesquisar sobre o país, inevitavelmente a impressão da Libéria foi completamente negativa: país acabava de sair de uma guerra civil, infra-estrutura precária, má qualidade de vida (ou pelo menos difícil), vulnerabilidade a doenças (malária é um grande problema aqui). Mas a idéia de trabalhar numa organização que vai diretamente ajudar a reconstruir e desenvolver o país falou mais alto. Todos os pontos negativos ficaram em segundo plano. E mais uma vez, coloquei minha vida em 2 malas e decidi experimentar um lugar que para mim era completamente desconhecido.
Algumas pessoas me perguntaram entao aí vai a explicacao do que vou fazer: fui contratado pela LFS , consultoria especializada em microfinancas. A LFS tem alguns bancos de microcrédito próprios, o AccessBank, e também presta consultoria para bancos que querem montar operacoes de microcrédito. Entao nos primeiros anos do banco, consultores da LFS ocupam os cargos gerenciais dos bancos, para implementar a metodologia de microcrédito e aos poucos delegar as responsabilidades para funcionários locais. Devo ficar 6 meses participando do programa de formacao de consultores, e depois o primeiro "assignment" deve ser Brasil!

Depois de 2 dias de Berlim, a sensação de véspera era maior que nunca. O vôo em si já foi uma experiência. Seriam 8h de voo durante o dia sem entretenimento de bordo. Mas fiquei contente que fui sozinho na janela sem ninguém do meu lado, então estava tudo certo pra dormir o voo todo. Uma hora um garoto de 9 anos anos veio conversar comigo. Ele me disse que a família (mãe e 3 filhos pequenos) estava indo morar na Libéria. Ouvi a mãe comentando que não podiam ficar nos EUA... A mãe estava desesperada tentando tomar conta das 3 criancas, e principalmente o garoto não parava quieto. Apesar do sono, falei pra ele sentar ali do meu lado, e ficamos conversando e até trouxeram um baralho pra gente ficar jogando. Então grande parte do voo jogando baralho e falando sobre filmes que eu nunca tinha assistido (transformers, dia dos namorados macabro, etc etc).

Também conheci o Sr. James. Um liberiano que foi pros EUA no período da guerra civil, mas queria se aposentar na Libéria. Ele disse que se não tivesse ninguém me esperando me daria carona até a cidade. Desembarquei, e o Sr. James (o amigo do vôo) me puxou. Me disse “Libéria pode ser um pouco chocante pra ser sua primeira experiência na África, fica comigo”. Na minúscula sala de imigração não dava pra entender nada e a fila demorava uma eternidade. Estavamos, James e eu na fila da imigração, ele cutucou uma oficial de imigração que estava passando na nossa frente. Ele falou bem baixo pra mim “I don’t know if she will remember me.” Ela virou, olhou.... olhou mais de perto, tirou o boné que ele estava usando, e gritou “I can’t believe it!” e deu um pulo em cima dele! Eram amigos de antes da guerra. Não se viam há mais de 15 anos! Ela gritava de alegria! Falou que era ele, o James que cuidava dela (pq ele trabalhava numa clinica). Se abracaram, e ela nao escondia a alegria daquele momento. Enfim, ela tirou a gente da fila, e levou a gente pra uma salinha onde agiilizou todo o processo e pudemos passar pra pegar as malas. Na alfandega tive que abrir todas as malas. E quando achei que ainda tinha acabado, vem a parte da polícia. O James saiu direto e disse que me esperava lá fora. Obviamente que eu fui barrado e levado pra uma salinha pela policia. Ficaram fazendo perguntas por mais de meia hora. Mostrei todos os meus contratos, papéis, e o cara da imigração solta “So, if you are working in a bank, you must have some extra dollars with you.” Falei pra eles que estava indo fazer um estágio voluntário no banco de microcrédito, anode receberia alimentacao e moradia. Pra minha sorte, os caras engoliram a histria (isso prova que eles realmente nao leram nenhum dos papéis que olharam)

Coincidentemente, a diretora/CEO do banco na Libéria, que também é consultora da LFS estava chegando num vôo de outro lugar. E foi ela quem foi me buscar na sala da polícia. Fomos conversando no caminho, mas estava mais curioso com a paisagem e ver como a Libéria era. Era noite, mas consegui perceber algumas coisas: cidade suja, muitos buracos na rua (conseqüência da guerra), e naturalmente quase 100% da populacao negra. O mais engracado foi a suspeita de um sentimento de familiaridade com aquela terra.

Chegamos no centro de treinamento do banco. É um prédio de 2 andares, com dois apartamentos. O apartamento de cima é o da diretora, e o debaixo é o centro de treinamento. Literalmente um monte de mesas e cadeiras no que seria a sala do apartamento. E há 3 quartos com banheiro. Em 2 deles, estavam dois funcionários do AccessBank Azerbaijao (na minha cabecaa, também nao consegui localizar o Azerbaijao no mapa...). Eles sao do banco mesmo e nao da consultoria, e vieram ajudar a montar a operacao aqui na Liberia, ja que eram agentes de crédito experientes.
Fiquei positivamente surpreso com algumas coisas:
- 2 colegas de apto bem tranquilos, mas bacanas

- Saber que o apartamento tem luz elétrica 24h! Gerador próprio no prédio. Isso é luxo na Libéria!

- Puxar um cabo de rede que estava no quarto, colocar no computador e ver que tem conexao de internet no apto foi demais!

- E mais um luxo pra Liberia, cama com colchao de esponja e ar condicionado no quarto! (depois coloco fotos)

Mas também apareceram as coisas negativas, mas que nao foram surpresa, porque já estava preparado para o pior .

- A infra do lugar nao era das melhores.

- O apartamento estava bastante sujo.

E encontrei umas amigas aracnideas no corredor. Mas tava tao cansado, que relevei e fui dormir, porque já comecava a trabalhar no dia seguinte.

Próximo post: 1ª semana de Liberia

4 comments:

  1. legal, brigada pelas explicações! agora sim ta dando pra entender...

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  2. vc devia estar realmente cansado pra não ter gasto pelo menos uns 2 tubos de deterfon em cada aranha. Abraço!!

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  3. uiiii rajji!!!!

    aranha to fora!!!!
    conta maissssss......

    bjuuu

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  4. Gente, tem jeitinho "brasileiro" por aí tb? Furasse a fila!

    E ótima aula de história. Agora, além de falar do meu amigo mais exótico, ainda vou poder contar detalhes sobre a Libéria :-P

    Boa sorte aí!

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